O Brasil enfrenta uma crise de identidade.
Antes eu achava que só o sul-matogrossense sofria com a falta de uma identidade cultural. Parecia-me que apenas na região centro-oeste se ensinava geografia nacional.
Por qualquer canto do país que eu ia, ou de qualquer parte, fora centro-oeste, que se ouvia ou se falava em Mato Grosso do Sul, as pessoas sempre perguntavam de Cuiabá.
Era um parto ter de explicar que eu não era de Mato Grosso, mas sim de MS, e que Cuiabá era capital do MT, e Campo Grande a capital do MS. Existiam os mais abobalhados que insistiam e duvidavam e ousavam na ignorância: “mas, qual a diferença?” ora, a diferença é simples: um é um, e o outro é outro.
Como feijão e arroz. Como São Paulo e Minas Gerais. Como a Carolina do Sul e Carolina do Norte. Como a Paula e a Tais em Paraíso Tropical. Como as torres gêmeas. Como meu pé esquerdo e meu pé direito. Como um pênis e uma vagina. Enfim: um é um, e outro é outro.
Com o tempo comecei a descobrir que o nordestino também não tinha muita identidade. Amava sua terra, assim como eu amo a minha, mas era sempre tratado como nordestino. Um pernanbucano é nordestino, igual a um alagoano, um baiano, ou sergipano, e até mesmo igual a um cearense. Por mais que um baiano fale mais lento e arrastado que um cearense de fala ligeira e na pontinha da linguá, no final eles serão vistos como nordestinos.
Existem muitos sem identidade. Os descedentes de escravos do Congo que chegaram na costa pernambucana são diferentes dos descendentes de moçambicanos que desembarcaram na Bahia, porém, na verdade são apenas afro-descendentes.
Existem os árabes. Que geralmente são todos turcos ou árabes. O libanês é conhecido como turco. O iraniano é turco. O sírio é turco, e até o turco é turco.
O coreano, do norte e do sul, o chinês, o japonês, o malaio e até alguns indonésios são todos: japinhas ou japongas. Vieram todos da terra do Jaspion e do Jiraya.
Eu sou um caso extremo. Sou filho de negro, de pele branca, traços indígenas, e cabelo de oriental.
Todavia, além dessa falta de identidade. Existe outra, tão cômica e cruel.
E antes dela, vale esse "( )" :
(Não é que eu esteja me tornando perito em falar mal dos brasileiros ( http://crentepensando.blogspot.com/2009/08/deixe-o-pobre-idiota-doar.html ), mas eles são minha realidade nua e crua, cotidiana e eterna).
Outra falta de identidade que identifiquei é a falta de ídolos dignos de serem respeitados, amados, imitados, venerados como gênios, com talentos incomparáveis. Gente como Senna, Ronaldo, Pelé, e até o pobre Lula.
Na música, o MC fulaninho e o zé alguem & e seu irmão, estouram nas paradas. Não vendem muitos discos por causa da pirataria, mas a fama lhes garante bons trocados.
No futebol a gente tem de se contentar com o Washington, e com a convocação do Afonso Alves. A grande contratação do meu time é o Washington, que dos 10 primeiros gols com a camisa tricolor , 06 tinham sido feitos pelo adversário e creditados a ele.
O grande nome do esporte, fora o fenômeno que merece atenção pelo talento e técnicas geniais, foi o Felipe Massa. O país todo sofreu e torceu pela recuperação de um atleta completamente inexpressivo e sem carisma como o Massa. Depois do Senna, a gente torce para que o rubinho pare logo, para que o Galvão narre menos, para que o Massa ao menos seja homem para brigar com um europeu, e para que o arrogante piquetzinho corra na Indi (já que quase ninguém assiste mesmo).
Na verdade foi a quase tragédia com o Massa que me despertou a vontade de escrever isso aqui. É claro que torci para que ele se recuperasse, da mesma forma como torci para que o kubica sobrevivesse quando vi seu carro voar nas pistas do Canadá.
Não que ele fosse um ídolo, mas era um brasileiro, um ser humano em momento de dificuldade. Merecia minhas orações. Falta alguma coisa nele que o Senna tinha de sobra.
Falta alguma coisa no Washington, no Obina, no Souza, no Pereira, que sobra no Ronaldo, e que abundava no Romário.
Eu estou tão sem identidade que comemorei um gol do Borges, gritando: “Golaço, golaço...o cara é craque”
Mnha vida tem tão poucos ídolos de verdade que estou empolgado com os 14 pontos de vantagem do Button sobre o rubinho. Já até o vejo como um injustiçado.
Eu estou tão caseiro e noveleiro que torci “pro fí do demo” ficar com a “santinha”.
Tem gente em situação mais triste que a minha. Tem um vereador (suplente) na minha cidade que destacou a atuação da “SEGUNDA COLOCADA” do BBB9, pela visibilidade que ela deu ao MS. Esse é o verdadeiro celebrar do "quase deu". Como os pais do Gaylor Fucker (entrando numa fria), com seu altar da mediocridade.
Na verdade a gente vive essa falta medíocre de identidade. Por isso o Diego Alemão era um baloarte moderno da TFM. Por isso o Keirrison foi vendido com status de craque. Por isso o MC créu estourou com sua “poesia”. O Massa é nossa grande esperança de título. Por isso o quarteto do revezamento 4x100 só chegou na final do mundial por causa da eliminação dos E.U.A. Por isso na religião tupiniquim quem aparece não é mais um Arns, um pio Caio, mas sim o Macedo, o D. José Sobrinho, de Olinda (que revogou decisões que ele achou liberal do santo D. Helder Camara).
Um amigo, aqui do tripé, até se emocionou com a vitória do Brasil naquela "divisão de acesso" da copa davis. Só falta agora chorar e beber pela vitória no Miss mundo.
É triste. Eu sei.
Fazer o que?
O jeito é torcer para surgir um novo Ronaldo. Até lá eu vou idolatrando o Rogério Ceni.
O jeito é esperar pela genialidade de um Renato Russo, ou Raul. Até lá eu vou cantando “O Rappa” ou “Deus e eu no sertão...”
o jeito é esperar por um novo Senna. Até lá, vou torcendo pro simpático Button perder pro azarado rubinho.
O jeito é torcer pro Dado. Até lá, eu vou pensando em fazer minha inscrição no BBB10.
O jeito é ouvir Diogo e cantar velhos pagodinhos, até que surjam novos mestres do pagodinho da minha adolenscência.
O jeito é torcer para que algum político tire o italiano de lá, e pense em mudar o nome do meu Estado natal. Por esses dias, de tão cansado da ignorância do brasileiro, eu respondi que Cuiabá estava bem...e deve estar né? Ganhou a copa da gente...lá estava quente, bem quente.
Acho que da próxima vez vou responder que lá, em Cuiabá, no mato grosso do NORTE, também se ensina geografia, e que no Brasil do RESTO ainda se vê a Xuxa e a Ximenes.
Escrevendo de Brasília, de onde ninguém nasceu, e com o coração no MS, de onde ninguém ouviu falar, Ludyney "Pantaneiro" Moura. :-)
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